Doces Lembranças
E de repente o primeiro período penetrou na minha memória e por mais um ano que já se passou, me fez esquecer por instantes o agora.
Veio a mim o trote, as 1º aulas, a casa nova, o colchão novo, os amigos novos. Veio aos coincidentes encontros no calçadão, quando a gente mal se conhecia. Os encontros no cine Goita, quando fugíamos das aulas de histologia, do cine Dom Marcelo aos domingos, quando não voltávamos para casa. Veio a fossa do final de semana com saudades da família. Encontro na filosofia, só dava paquera. Veio o papo descontraído no Geraldão, o pilequinho no pagode, o churrasco da turma em alguma republica com quintal, que sempre terminava em carnaval. No Rio, nessa época, as bombas explodiam em todos os pontos da cidade, como atentados terroristas de direita.
Primeiro período foi só novidades e deixou saudades. Hoje da pra sentir o cheirinho que ficou da época. Era o medo da Anatomia, com razão. O terror da Bioquimica, a confusão na aula do João. Isso até me remete a uma aula do José Claudio de Bioquímica. Eu, já meio enturmado, não entendendo a solução de um problema, na pura inocência aventurei-me a perguntar — Oh Blau – Blau! Você poderia repetir novamente o problema? Ao que Jose Claudio, vermelho de raiva, não me respondeu até hoje.
Eram as festinhas nas republicas mais badaladas da época regadas a vinho tinto — cerveja naquela época já era cara —. Mas a turma entornava legal, pois tinha muitos que chegavam às festas no estado que deveria sair, ou sejam carregados.
Eram as brigas e as discussões do grupo de anatomia, que não se entendiam. Eram as reuniões noturnas no ônibus da 1001, e a saudade de casa contida nas algazarras no ônibus até o Rio. Eram as provinhas semanais de histologia. Era a cabeça raspada pelo trote e as drogarias vendendo produtos capilares milagrosos, e o boné que disfarçava a calvície forçada. Era a eterna esperança de transferência para a UERJ. Era a passagem da 1001 a CR$ 300,00. Era viajar de branco todo preto. Era o baile dos Calouros que eu não fui. Eram os bailes de calouro que eu ajudei a organizar. Era o Fofoc, o jornal da turma que ajudei a fundar. Era o Raul com suas excentricidades assustando as garotinhas. Era a bagunça na biblioteca. Era medir o fio de cabelo toda manhã esperando um milagre noturno.
E hoje? Onde está o riso descontraído? Hoje é um sorriso preocupado. Onde está o amigo que seguiu sua vida? Onde está o encontro no Goyta? No pagode, no Geraldão, no 1001. Onde está a fotografia da turma?
Primeiro período deixou saudades. Esse ano fazemos 25 anos que deixamos nossa FOC, 29 que nos separa dessa época. Como não pensarmos sobre isso? Um autor anônimo escreveu um dia: "Nossas loucuras são as mais sensatas emoções. Tudo o que fazemos deixamos de lembranças para os que sonham um dia ser como nós: loucos, mas felizes." Adaptação do conto de Arthur da Távola, do Livro Liberdade liberdade.
Ivany C Neto 21/09/2008
E de repente o primeiro período penetrou na minha memória e por mais um ano que já se passou, me fez esquecer por instantes o agora.
Veio a mim o trote, as 1º aulas, a casa nova, o colchão novo, os amigos novos. Veio aos coincidentes encontros no calçadão, quando a gente mal se conhecia. Os encontros no cine Goita, quando fugíamos das aulas de histologia, do cine Dom Marcelo aos domingos, quando não voltávamos para casa. Veio a fossa do final de semana com saudades da família. Encontro na filosofia, só dava paquera. Veio o papo descontraído no Geraldão, o pilequinho no pagode, o churrasco da turma em alguma republica com quintal, que sempre terminava em carnaval. No Rio, nessa época, as bombas explodiam em todos os pontos da cidade, como atentados terroristas de direita.
Primeiro período foi só novidades e deixou saudades. Hoje da pra sentir o cheirinho que ficou da época. Era o medo da Anatomia, com razão. O terror da Bioquimica, a confusão na aula do João. Isso até me remete a uma aula do José Claudio de Bioquímica. Eu, já meio enturmado, não entendendo a solução de um problema, na pura inocência aventurei-me a perguntar — Oh Blau – Blau! Você poderia repetir novamente o problema? Ao que Jose Claudio, vermelho de raiva, não me respondeu até hoje.
Eram as festinhas nas republicas mais badaladas da época regadas a vinho tinto — cerveja naquela época já era cara —. Mas a turma entornava legal, pois tinha muitos que chegavam às festas no estado que deveria sair, ou sejam carregados.
Eram as brigas e as discussões do grupo de anatomia, que não se entendiam. Eram as reuniões noturnas no ônibus da 1001, e a saudade de casa contida nas algazarras no ônibus até o Rio. Eram as provinhas semanais de histologia. Era a cabeça raspada pelo trote e as drogarias vendendo produtos capilares milagrosos, e o boné que disfarçava a calvície forçada. Era a eterna esperança de transferência para a UERJ. Era a passagem da 1001 a CR$ 300,00. Era viajar de branco todo preto. Era o baile dos Calouros que eu não fui. Eram os bailes de calouro que eu ajudei a organizar. Era o Fofoc, o jornal da turma que ajudei a fundar. Era o Raul com suas excentricidades assustando as garotinhas. Era a bagunça na biblioteca. Era medir o fio de cabelo toda manhã esperando um milagre noturno.
E hoje? Onde está o riso descontraído? Hoje é um sorriso preocupado. Onde está o amigo que seguiu sua vida? Onde está o encontro no Goyta? No pagode, no Geraldão, no 1001. Onde está a fotografia da turma?
Primeiro período deixou saudades. Esse ano fazemos 25 anos que deixamos nossa FOC, 29 que nos separa dessa época. Como não pensarmos sobre isso? Um autor anônimo escreveu um dia: "Nossas loucuras são as mais sensatas emoções. Tudo o que fazemos deixamos de lembranças para os que sonham um dia ser como nós: loucos, mas felizes." Adaptação do conto de Arthur da Távola, do Livro Liberdade liberdade.
Ivany C Neto 21/09/2008