quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Vovô Ivany

Esse ano ele completaria mais um ano, se Deus não o tivesse levado aos 99 anos de vida, e que vida... Cresci escutando suas estórias fabulosas, outras eu mesmo presenciei, e outras tantas chegavam a mim através de pessoas que com grande admiração nos contavam, de um jeito que misturava respeito e um bocado de orgulho, como se elas tivessem um pedacinho dele com elas. Hoje vejo que era seu jeito de ser que conquistou naturalmente seu lugar no coração daquelas pessoas, e tornando se patrimônio daquele lugar. Penhalonga, distrito de Chiador, Minas Gerais. Lugar de menos de 3.000 habitantes onde nasceu Seu “Vany Coutinho”, como o chamavam na cidade, e onde por quase 100 anos viveu sendo amado por todos. Não é a toa que quando a família toda se reunia para comemorar seu aniversario, numa festa grandiosa em sua casa, no dia seguinte a cidade se enfeitava pra comemorar a seu jeito essa data... Um mito, uma lenda, uma lembrança. O vovô Ivany... Mesmo depois de adulto eu continuava a me surpreender com ele e com as estórias contadas sobre ele pelo povo de La. Certa ocasião, em uma cidade afastada uns 20 km de distancia, eu conversava com um senhor que o conhecia, e perguntei o porquê de tanto carinho e respeito que ele recebia. O senhor respondeu-me com entusiasmo... “Olha rapaz, seu avô entre outras coisas costumava mandar levar na casa de toda família necessitada, uma vaca de leite, para amamentar alguma criança que tivesse nascido”... E isso me fascinou! E assim era ele. Magrinho, tipo franzino, estatura baixa, com olhos bem arredondados e pequenos, traços marcantes na face, e olhar penetrante, que combinavam bem com seu tom de voz baixo e cadenciado que chamava atenção justamente por isso. Com raros sorrisos e temperamento inquieto era um homem de poucas palavras e grandes atitudes. Isso me fez recordar uma ocasião quando eu devia ter uns 13 a 14 anos, e junto de meus primos tínhamos acabado de acordar e já estávamos prontos pra pegar nossos cavalos pra passar o dia todo em cima dos animais, da forma que mais gostávamos, à pelo, sem arreio, quando ele chegou e pra surpresa nossa pegou me pelo braço e mediu meu antebraço com a correia do estribo de uma arreio que ele segura, e sem falar uma palavra deixou o arreio no chão a nossa frente e se afastou... Pronto! Deixou a duvida no ar... Estava ele me dando o arreio, ou era para nos usarmos? E a coragem para perguntar? Ate hoje não ficamos sabendo. Foi quando ele ficou mais velhinho que seu coração amoleceu mais, e para minha surpresa nos procurava pra prosear com mais frequência. Nessas horas eu tentava puxar dele algumas façanhas que as pessoas viviam contando sobre ele, como a enorme capivara que ele capturou ao pular da canoa sobre as corredeiras do Rio Paraibuna... Segundo contam, ele ao avistar o bicho, atirou se sobre suas costa, e agarrado a ela foi submergido pelo animal na tentativa de se livrar dela, mas quem se cansou foi o enorme animal. Eu contava a ele o que diziam, e ele apenas ria com os lábios quase fechados e a mão no queixo como de costume. Mas a fama de mergulhador não foi feita devido a isso, mas pelas inúmeras vezes em que a defesa civil e os bombeiros o chamavam para encontrar e resgatar corpos de pessoas afogadas, ou desastre de veículos que caiam no Rio Paraiba do Sul. Fez isso ate seus 70 e poucos anos, quando descia nas profundezas do rio com enormes anzóis, e vasculhava o fundo ate achar os corpos, onde prendia os pelo nariz com os anzóis e os traziam. Era também de atitudes infantis também, como quando já com a idade avançada viu uma reportagem de uma menina de 21 anos que administrava sozinha uma enorme fazenda em Barbacena, distante muitos quilômetros de la, e pediu para minha prima leva lo ate ela, para conhece la. Logico seu pedido foi atendido.Observador e muito inteligente, não tinha nem o primário completo, mas teve uma vida rica de gratidões, e vivia cercado de fãs, amigos e colaboradores. Uns que de tanto apreciarem sua companhia acabavam indo visita ló e so iam embora meses e ou ate anos depois. Eram essas pessoas que nos contavam seu feitos e aventuras, pois naquela época era difícil tirar uma so palavra de sua boca, pois sempre estava fazendo as pressas alguma coisa. Tínhamos muito respeito por ele, e às vezes so descobríamos o que ele queria. Após ele já irritado fazer por si mesmo... Pega aquilo menino! Mas o que é aquilo vovô? Ah deixa que eu faço...! rsrsrsrsrs Nos últimos meses de vida, ao ir visita ló, eu ficava apreciando sua rotina, não maios aquela de correria, e sim uma rotina de leitura sobre matérias rurais, quando so as largava para fazer seu queijo, pois a cachaça não fazia mais, se bem que beber seu cálice matutino acho q ainda fazia, e visita alguém, quando se deslocava com seu enorme cajado que ultrapassava bem o seu pequeno tamanho. As 19 horas já não o viamos mais, pois se recolhia cedo, quando adormecia ouvindo seus sertanejos pelo radio. As 4:30 horas da manhã se levantássemos nosso café já se encontrava pronto e coberto por um enorme pano de prato que cobria nosso alimento. Deixou saudades e o que ficou foi uma lição de vida e muitos exemplos que marcaram a todos. Esse foi Seu Ivany Coutinho... Um homem que quando foi autuado pelo IBAMA por retirar barro branco de sua própria propriedade - os tempos estavam mudando – O juiz para calcular sua multa perguntou a ele quanto ele percebia do INSS. No que ele rapidamente se levantou e batendo no braço disse : “ Enquanto eu tiver esses dois braços aqui não precisarei de governo nenhum pra me sustentar”. No que o juiz admirado, mandou os presentes se levantarem e saldar com uma salva de palmas esse grande brasileiro... Se o pais tivesse mais gente como o senhor isso aqui seria diferente”... Saudades VÔ!

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