terça-feira, 5 de março de 2013

Era eu muito jovem, pra avaliar as consequências?

Minhas melhores lembranças do Karatê, com absoluta certeza foram com a faixa laranja. Aliás, digo com certo e natural saudosismo, a que mais orgulho me deu de usar, e foi, sem dúvida nenhuma, a que mais eu vesti em termos hora treino, pois treinava constantemente, pela manhã e a tarde, ou noite. Era muito jovem, e começando a me descobrir como ser, e ainda perplexo com os resultados dos meus treinos, não acreditava em certas coisas que saiam durante os treinos... Como fiz isso pensava ao executar algo que não imaginara fazer, e que dava certo em termos de eficacia. Lembro muito bem dela, da marca "Tigre", pois ainda a tenho, guardada no meu armário. Fininha, não essas cintas de hoje, que acho até mais bonitas... mas era a que eu tinha... e não estava sozinho não. Éramos uma verdadeira "falange" vestidos de branco e laranja. Eu, Goiaba, Charuto, Paulo gato, Gaúcho, Cia, aprontávamos boas e muitas para alegria de nós mesmos, pois nos divertíamos com o que fazíamos... Era quase uma panelinha... rsrsrsrs ... Uma seita, um grupo, uma gang... Uma verdadeira falange da irreverência, da molecada, da descontração, da juventude, pois o aquecimento era feito no vestiário, através das gozações e gargalhadas que transformava o ato de vestir o kimono em um congraçamento diário entre amigos. Isso me remete a uma aula do Sensei João Ricardo, já na sede nova, quando treinávamos constantemente Kihon Ypon, e como de costume, logo em seguida, um estudo de combate. Minha gente, quando somos jovens, muita das vezes, situações que se apresentam no dia a dia, nos faz não avaliamos algumas atitudes, suas conseqüências e danos que podemos causar, devido ao poder que adquirimos tão cedo. Já havia lutado com uns dois amigos/adversários, quando, ao comando do Sensei trocamos de adversário. Não me lembro do nome do indivíduo, mas lembro que era louro aparafinado, pois vivíamos a época do desbunde no Rio de Janeiro, e a parafina era o equivalente a agua oxigenada de hoje. Eu faixa laranja e ele um faixa verde aluno de outro turno, acho que da noite, pois não aparecia com freqüência no nosso horário. Trouxe naquele dia, a tira colo, duas lindas gatinhas adolescentes de tirar o fôlego, que chamou bastante atenção na galera. Pra minha surpresa, ao cair comigo, ele surpreendentemente chama a atenção das meninas que sentavam em um banco atrás de mim, e passando a mão debochadamente nos lábios, exagerando no movimento, disse a elas " Me dei bem". Isso foi o sinal, pra automaticamente eu pensar no que eu faria. Confesso que não foi por maldade, pois quem me conhece sabe que não tenho essa índole, mas a unica coisa que me passou pela cabeça, naqueles breves segundos que se passaram antes que o Yamê fosse dado, foi exagerar a base esquerda, com a perna da frente bem aberta. Se ele engolisse o truque e me desse o passa pé, ou o Ashi Barai, eu entraria com Ushiro com a perna de trás. Na verdade, seu passa pé seria o impulso que eu queria pra virar e usar a outra perna. Não deu outra, e não houve luta. Ele fez exatamente o que eu em apenas uma fração de segundos imaginei que fizesse. E o resultado foi um Ushiro na traquéia. Pronto...! No chão desacordado, lá estava um corpo caído... Um tumulto enorme se formou em torno dele, muitos querendo acorda lo, massagens, reanimação, e um abacaxi que eu poderia ter que descascar pro resto da vida. Até hoje não sei se seria uma fatalidade ou culpa de um ato automático e treinado de raciocinar como um combatente. a verdade é que somos responsáveis pelo que fazemos em nossa sociedade, portanto temos que orientar muito bem para que coisas como essas não aconteçam dessa forma, mesmo sabendo que a responsabilidade é toda nossa, e estamos em uma arte de risco.

2 comentários:

marlybechara disse...

Querido Nizo! Eu não sabia desse blog. Achei muito legal. Eu não sabia, também, que você se tornou um escritor, cheio de inspiração. Amei! Depois dará um livro de reminiscências, ein?? Beijos saudosos da Tia

ComPaixão disse...

Obrigado querida tia Marly. Desde 2001 que bota no papel, e na tela, rsrsrs o que me vem a alma! Obrigado pelos comentários.